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ARGUMENTO PÓS – GRADUAÇÃO
CURSO PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR E CLÍNICA
MARIA DENANCI DA SILVA MAIA
MARINEIDE SALES
ESCOLARIZAÇÃO DA CRIANÇA NO AMBIENTE HOSPITALAR
Salvador – Bahia
2009
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Especialização em Psicopedagogia Escolar
e Clínica, Argumento Pós-Graduação.
Orientadora: Professora Evanir Abenhaim
Salvador – Bahia
2009
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MENSAGEM
Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto o ouvi,
Ouvia uma outra voz
Como que vindo nos interstícios
Do brando encanto
Com que teu canto vinha até nós.
Ouvi-te e ouvi-a
no mesmo tempo e diferentes
juntas a cantar.
E a melodia que não havia se agora a lembro faz-me
chorar.
Foi a tua voz encantamento que,
sem querer, nesse momento
vago acordou um ser qualquer alheio a nós que nos
falou?
Que anjo, ao ergueres a tua voz,
sem o saberes,
veio baixar sobre esta terra onde a alma erra,
e com suas asas soprou as brasas de ignoto lar?
Fernando Pessoa
(citado por Alves, 1994)
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Dedicatória
Dedicamos este Trabalho de Conclusão de
Curso unicamente a Deus pelo Seu amor, Suas eternas
misericórdias, compreensão e apoio irrestrito.
Que sempre nos deu em todos os momentos
e sempre foi à base para nossa formação.
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AGRADECIMENTOS
Um Trabalho de Conclusão de Curso não surge do nada. Uma vida acadêmica se
derrama na mente de cada estudante, profissionais da instituição e livros que superlotam o
ônibus cerebral que o autor dirige na elaboração de seus manuscritos.
Desejamos reconhecer o mérito daqueles que tornou possível a essa vida
acadêmica tão árdua e prazerosa. Este trabalho não teria sido idealizado nem completado em
seu estado atual sem a colaboração de algumas pessoas que nos ajudaram para alcançar este
objetivo.
Nenhum estudante acadêmico pode ir tão longe sem uma conceituada Instituição
que o compreenda, o capacite e dêem os retoques necessários nos momentos exatos, o que
conservou a janela para o futuro sempre aberta e cheia de luz.
E a tudo isso, acrescentamos ao eterno Jesus que nunca nos abandonou nessa
difícil jornada. A ELE SEJA TODA GLÓRIA.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 7
2. JUSTIFICATIVA 9
3. OBJETIVOS 11
3.1. OBJETIVO GERAL 11
3.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS 11
4. HIPOTESES DE TRABALHO/QUESTÕES NORTEADORAS 12
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ONDE O TRABALHO FOI EFETUADO 13
5.1 NO HOSPITAL 13
6. TEXTO TEÓRICO 16
7. METODOLOGIA 30
8. INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 37
9. CONSIDERAÇÕES 43
10. REFERÊNCIAS
11. ANEXOS
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1. INTRODUÇÃO
Durante muito tempo crianças, adolescentes, jovens e adultos em fase escolar que
possuíam algum (ns) tipo(s) de doença(s) e que estiveram impossibilitados de freqüentar uma
escola, eram encaminhados somente a alguns profissionais de saúde como, psicólogo,
terapeutas, neurologistas, clínicos e outros onde se fazia avaliação de cada caso, de forma
individual e segmentada, sem que houvesse um olhar interdisciplinar sobre a questão
pedagógica de cada um deles. Surgiu daí a necessidade de um trabalho que facilitasse o
vínculo entre esses profissionais e o aprendente com o processo de aprendizagem.
A classe hospitalar constituiu-se como espaço de aprender em situação hospitalar,
configurando uma ação educacional compatível com o entorno problematizador, para que o
paciente aluno durante o tratamento médico ou após o seu término, não seja absorvido em
outra situação de conflito, que é o despreparo para a vida escolar. Os pacientes hospitalizados
desenham um perfil de alunos temporários da educação especial que devem ter uma
assistência preventiva contra o fracasso escolar, a reprovação, a repetência e a evasão.
A “temática” escolarização hospitalar tem sido objeto de preocupação recente dentro
de alguns hospitais e conta com poucos estudos especializados nos meios acadêmicos
escolares.
As expressões lúdicas da criança em ambiente hospitalar, em fase de desenvolvimento,
exigem um trabalho que aponta para a redescoberta da vida na assistência à criança
hospitalizada.
Vinculando-se ao que foi percebido na observação e na pesquisa, no atendimento
psicopedagógico e pedagógico – educacional, existem 25 classes hospitalares com
atendimento escolar para crianças e adolescente em tratamento de saúde na Bahia.
Dentro deste restrito grupo, encontra-se a classe hospitalar no Hospital Sarah. Uma
proposta de serviço que possui um atendimento de cunho essencialmente educacional com
identidade lúdica e interdisciplinar, consagrando-se entre pouco no Brasil que prestam essa
atenção aos pacientes-alunos.
Não há intenção de esgotamento da temática, mas sim, de fomentar a discussão como
pretexto de dar corpo ao programa de educação em exercício para além do espaço
convencional de ensino. A classe hospitalar vem desenvolvendo com sucesso um trabalho
diferenciado com alunos. O trabalho é feito de forma construtivista, no qual o aluno participa
ativamente dos desenvolvimentos das aulas enquanto está em tratamento. A Classe hospitalar
busca uma educação diferenciada e com qualidade, trabalhando sempre com parceria com os
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profissionais do hospital e juntamente com a família. Visando o aprendizado e a formação
integral do educando enquanto sujeito capaz de atuar no mundo de forma competente e
democrática e acima de tudo ética participando dos movimentos sociais e culturais, exercendo
plenamente sua cidadania.
Com tudo que um hospital ou uma doença possa ter de desagradável, sem dúvida
possibilita emergir efeitos, sentimentos e ligações de solidariedade, a perspectiva de cura,
restabelecimento e cuidados. Uma atenção integral do psicopedagogo que disponibilize
efetivamente a proteção técnica e, ao mesmo tempo, disponibiliza a atenção para a escuta de
demandas, e expectativas tanto dos pais, quanto da criança e, sobretudo para a dialética que se
estabelece entre elas. Criando assim, um espaço propício ao encontro e aos afetos alegres, onde
se intencione acompanhar o movimento de deixar ver e esconder (emoções, sentimentos,
confusões, questões que a criança usa para conectar-se com o desejo de crescer, conhecer,
curar, estudar e viver).
O trabalho psicopedagógico no ambiente hospitalar além de ser preventivo e clínico, é
também teórico dependendo da necessidade de refletir a práxis. Portanto, é preciso repensar a
prática antes de abordar o teórico.
O campo de atuação da psicopedagogia refere-se ao espaço físico onde se dá esse
trabalho, ao espaço epistemológico, a saber, o hospital onde está inserida a classe hospitalar.
Cabe aos psicopedagogos detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem,
dentre eles educacionais, psicomotores e/ou psicológicos.
Analisando a história, percebe-se que a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da
aprendizagem, porém cada vez mais está voltada para uma ação preventiva.
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2. JUSTIFICATIVA
A hospitalização infantil tem sido tema de constante interesse entre os profissionais de
saúde, preocupados com os efeitos nos contextos físico, educacional, social e emocional sobre
o processo de desenvolvimento da criança.
A criança hospitalizada, com o afastamento dos familiares, amigos, escola, sofre
profundas reações em nível emocional. Foi daí que surgiu o interesse por esse tema. A classe
hospitalar visa atender também as questões emocionais que envolvem o paciente. Pois ele
precisa de estímulo pra voltar a estudar normalmente.
Essa proposta de trabalho se sustenta porque a criança enferma é um sujeito em
desenvolvimento e a educação não se dá apenas no ambiente tipicamente escolar. Assim
sendo, o ambiente hospitalar pode vir a ser utilizado como campo de trabalho para o
psicopedagogo, pedagogo, assim os beneficiados serão, sem dúvida, as próprias crianças
envolvidas.
Este trabalho foi inspirado por vários motivos muito especiais que se desenvolvem
com a observação constante de cada paciente aluno e profissionais de educação, de saúde e
dos familiares.
O tema escolhido está direcionado à classe hospitalar, destinado a criar e contribuir
para a comunidade cientifica no sentido de desenvolver ações que agreguem valores ao ensino
pedagógico, onde estejam inseridas no compromisso de garantir a qualidade nos processos de
educação e de cidadania. Os psicopedagogos têm principal objeto de estudo na aprendizagem
humana e tem competência para desenvolver um trabalho eficiente e eficaz também nos
hospitais e na área da saúde.
A psicopedagogia vai além da aplicação da psicologia a pedagogia, pois não pode ser
vista sem um caráter interdisciplinar, que implica a dependência da contribuição teórica e
pratica de outras áreas de estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí
decorre, visto que ela não se limita à aprendizagem e, conseqüentemente, inclui quem está
aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto. A psicopedagogia é um
campo de atuação que integra saúde e educação e lida como o conhecimento, sua ampliação,
sua aquisição, suas distorções, suas diferenças e seu desenvolvimento por meio de múltiplos
processos.
A Psicopedagogia hospitalar surge como uma terceira força da Psicopedagogia que se
organiza a partir de varias áreas de Educação e Saúde. Não se focando apenas em crianças e
adolescente, que podem passar por longo período de internação. Se a vida é um constante
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aprendizado, ela não pode ser exclusiva da infância. A criança, o adulto e o idoso estão
passando por ciclos de novas aprendizagens.
Como Psicopedagogo hospitalar é imprescindível compreender todo o corpo de uma
estrutura hospitalar, por se tratar de uma área relativamente nova, onde a instituição hospitalar
em algumas situações não saberá o que pedir ao psicopedagogo e cabe a ele mostrar o que
pode acrescentar em beneficio do paciente e da instituição. O psicopedagogo irá colocar em
ação, questionamento e reflexão, questões acerca de como se adaptar a este novo ambiente,
provido de regras, normas, valores e função social, onde o mesmo deverá se conscientizar de
sua identidade profissional e delimitar até onde vai a sua atuação e a de outro profissional,
realizando o devido encaminhamento quando se fizer necessário. O psicopedagogo junto à
equipe multidisciplinar atuará de forma coesa e nunca isoladamente ou fragmentada. É
importante que haja um espaço para que os conhecimentos dos profissionais envolvidos neste
contexto sejam integradas à novas idéias, compartilhadas e ressignificadas, pois conhecer o
olhar de cada um contribuirá para a ação uma atitude sistemática.
Os profissionais da classe hospitalar devem ser contínuos e reflexivos, de maneira a
contribuir para que o vínculo entre a equipe se consolide o mais prazeroso possível, visando
um ambiente mais humanizado ao paciente pediátrico. (VASCONCELOS, S.M.F,pág. 7)
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3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL:
Promover uma continuidade no processo de aprendizagem àqueles que, por algum
motivo, necessitam de um atendimento adequado à sua realidade física, mental, sensorial,
social e cognitiva. Contribuindo de forma significativa no processo de ensino-aprendizagem do
aprendente das classes hospitalares.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a. Pontuar questões consideradas relevantes sobre as possíveis articulações da
prática pedagógica em classe hospitalar.
b. Observar pedagogicamente às necessidades do desenvolvimento psíquico e
cognitivo de crianças, adolescentes e jovens que, dadas suas condições
especiais de saúde, estejam hospitalizados e, conseqüentemente,
impossibilitados de partilhar das experiências sócio-intelectivas de sua família,
sua escola e de seu grupo social.
c. Manter elo entre o estudante e sua escola de origem;
d. Proporcionar experiências e vivências de aprendizagem;
e. Contribuir para a redução da evasão escolar;
f. Promover um espaço prazeroso de educação e interação com a família e escola
de origem;
g. Favorecer a reinserção escolar após a hospitalização;
h. Prevenir reprovações.
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4. HIPÓTESES DE TRABALHO / QUESTÕES NORTEADORAS
Como estruturar um modelo de acompanhamento que objetive melhor atender esta população,
evitando repetições e evasão escolar?
Quais as contribuições para melhorar a capacidade cognitiva e incentivar o desenvolvimento
psíquico, produzindo conhecimento, que, inclusive, favoreçam inserção ou reinserção, no meio
escolar, daqueles que dele estiverem afastados por motivos temporários ou prolongados?
Como proporcionar um conhecimento maior instigado por aprofundamento teórico, na
observação e na compreensão sobre o tema trabalhado, numa perspectiva de refletir a
prática docente em classes hospitalares, e as possibilidades de sucesso de muitos alunos
hospitalizados que tendem a ter sua vida acadêmica interrompida por causa da doença?
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5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ONDE O TRABALHO FOI REALIZADO
No Hospital
“Educação é, assim, vida no sentido mais
autêntico da palavra”.
Anísio Teixeira (1968)
Ao visitar o hospital que se localiza no início da paralela na cidade de Salvador Bahia,
apresentamos um ofício para realizarmos uma visita técnica que consistia em visitação e
observação do espaço físico.
O hospital Sarah possui atendimento pedagógico e psicopedagógico. O projeto
desenvolvido nesta instituição parte do princípio que a reabilitação é o desenvolvimento de
uma pessoal até o seu mais completo potencial físico, psicológico, social, profissional e
educacional e que na reabilitação procura-se o aumento de independência, melhora a
qualidade de vida e integração familiar e social está inserida a escolarização. O hospital
acredita que através da intervenção psicopedagógica contribui na descoberta e
desenvolvimento das potencialidades dos alunos pacientes, assim essa diferença pode implicar
em uma singularidade na sua forma de comunicação e de aprendizagem. Os pacientes são
atendidos em salas adequadas ao trabalho pedagógico, o ambiente é colorido, decorado com
desenhos, jogos e brinquedos, transformado em um local que causa sensação de alegria e um
bem-estar.
Mesmo não tendo as características de uma escola regular, as classes procuram
assemelhar-se à dinâmica escolar através de atividades pedagógicas, promovendo um espaço
de interação, desafiando e estimulando o aluno paciente a solucionar problemas, desenvolver
o raciocínio e pensar criticamente.
A classe hospitalar possui uma sala de brinquedoteca, um laboratório de informática,
duas salas de aula, todas bastante amplas e muito bem equipadas com materiais escolares de
qualidades oferecidos pelo hospital. As salas são bastante arejadas, com quadro piloto, mesas e
cadeiras, estantes com gibis, jogos, revistas, jornais, tintas, etc. mural com atividades das
disciplinas,
Após uma visita de uma psicopedagoga ficou decidido na implantação de uma classe
educacional dentro deste hospital. Seu trabalho está direcionado a Educação Infantil e Ensino
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Fundamental com uma proposta psicopedagógica onde o aluno participa ativamente das
atividades.
Nessa instituição percebem-se estas relações intimamente ligadas, pois, a filosofia da
classe é levar em consideração os processos vivenciados pelas crianças, resultado intencional de
uma equipe interdisciplinar, ou seja, cada um assume o seu papel, porém, os professores aguçam
nos seus alunos: senso de responsabilidade e respeito. Assim, constroem um ambiente saudável e
de boa relação e convivência entre Professor X Aluno X Grupo X Pais.
A classe hospitalar tem pedagogos, uma psicóloga e uma psicopedagoga atuante, onde
trabalha individual e em grupo com os alunos. Além, de participar na elaboração dos projetos,
auxilia nas dificuldades do corpo docente, participa das reuniões com os pais e coordenadores.
A prática da escola no hospital afirma que o aluno-paciente aprende a pensar em si e
no próximo, respeitando os direitos de cada um. A classe hospitalar ajuda nesse ponto, mas
não é o fator determinante na melhora do paciente, nesse quesito.
Neste contexto, para a coordenadora pedagógica, o programa escola no hospital existe
para assegurar o aluno o direito e o dever de uma vida escolar normal, na qual os pedagogos e
psicopedagogos têm que buscar no estudo a forma, o novo conceito e a inovação na educação
no ambiente hospitalar.
A escola nesse hospital busca construir uma educação de qualidade em parceria com a
família e os profissionais atuantes, contribuindo para a formação integral do aluno-paciente,
enquanto sujeito capaz de viver no mundo fora do ambiente hospitalar.
O Hospital Sarah possui uma das classes hospitalares mais conceituadas da cidade que
trabalha com Educação Infantil e Ensino Fundamental.
A Instituição hospitalar é responsável pelo cuidado de pessoas com doenças, embora
nem sempre essa visão esteja associada à promoção da saúde. Os pressupostos que orientam a
prática médica e o caráter curativo e terapêutico, característico da instituição hospitalar, por
exemplo, em relação à prática de visita e observação sistemática dos pacientes, muitas vezes
focalizam a saúde apenas como instrumento de cura, sem considerar os aspectos preventivos
e, portanto, educativos (CAMPOS, 1995; DALTON; FORMAN, 1992). Mudar o foco de
atenção e pensar o hospital como espaço de promoção de educação e a escola também como
espaço de promoção de saúde é um desafio, principalmente quando consideramos que a
concepção tradicional de saúde, em seu sentido estreito e biologista, contribuiu para o
distanciamento entre saúde e educação como duas esferas relativamente independentes uma
da outra.
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O hospital pode contribuir com a educação no sentido mais amplo, pois promove a
troca e a construção coletiva do conhecimento, estando facilitadas pelo atendimento
pedagógico baseado nas potencialidades individuais da pessoa enferma. Tais medidas
respaldam projetos, como os das classes hospitalares e do atendimento educacional hospitalar,
como alternativas que contribuem para a continuação do processo de escolarização de
crianças e adolescentes hospitalizados ou em reabilitação (BARROS, 1999; FONTES;
WELLER, 1998; MEDEIROS; GABARDO, 2004, SANTOS, 2000). Por isso, é importante
efetivar os contatos entre o hospital e a escola, no sentido de contribuir no atendimento às
crianças e adolescentes com necessidades especiais por meio do diálogo entre os professores.
O trabalho dos professores, nas unidades hospitalares presentes neste hospital, objetiva
avaliar o desenvolvimento e a aprendizagem do paciente; acompanhar a aprendizagem e a
vida escolar, ocupacional e profissional; estimular e favorecer a inserção e/ou reinserção
escolar; criar estratégias e recursos alternativos para educação e/ou reeducação; favorecer a
reabilitação das habilidades cognitivas; orientar a família e a escola; realizar trabalhos de
pesquisa e contribuir, quanto ao enfoque psicopedagogo, com a equipe interdisciplinar na
formulação dos programas de reabilitação (ASSOCIAÇÃO DAS PIONEIRAS SOCIAIS,
1998).
A atuação do professor hospitalar na Rede Sarah se diferencia do trabalho realizado
pelos professores das classes hospitalares que objetivam atender aos alunos em situação de
hospitalização. No caso do Hospital Sarah, os professores hospitalares são profissionais
contratados pela própria instituição, sendo membros efetivos da equipe interdisciplinar. O
trabalho, além do acompanhamento escolar e psicopedagógico, incluem também a
participação em discussão de caso, interconsultas com a equipe e a formação de profissionais
(APS, 1998).
Apesar das diferenças entre a atuação dos professores hospitalares da Rede Sarah e
dos professores das classes regulares podemos afirmar que o trabalho realizado pelos
professores dos hospitais da Rede se assemelha ao que é previsto nos documentos seguintes,
estando assim, em consonância com os princípios que regem o atendimento pedagógicoeducacional
destinado a crianças, jovens e adultos hospitalizados, assegurados pelo Ministério
da Educação (BRASIL, 1994). O mesmo é apresentado no Estatuto da Criança e do
Adolescente Hospitalizado (Resolução n. 41, out. 1995), segundo o qual “[...] toda criança
tem direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar” (BRASIL, 1995).
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6. TEXTO TEÓRICO
Durante a hospitalização, a criança sofre uma profunda cisão nos seus laços sociais:
de um lado a escola e as brincadeiras e, do outro, o hospital e os procedimentos clínicos.
Bossa (1991, p.37) faz referência à escola, comentando Sara Pain sobre a impossibilidade da
criança freqüentar a escola que a deixa num lugar de solidão. Sua vida fica restrita aos
espaços família/casa e hospital/doença. Para todas as crianças, em nossa sociedade, a
escola é um espaço de contato social, de vida. A manutenção desse laço é uma necessidade
para a criança. Para tanto, alguns fatores relevantes relacionados a uma prática de intervenção
psicopedagógica no hospital foram evidenciados, tais como:
Assim como em outras situações, não se pode forçar a criança a realizar
determinada tarefa previamente planejada, sem levar em conta o momento afetivo, social e clínico
que a criança está vivendo;
O fato de a criança estar hospitalizada não significa que se deva ser complacente
com ela e tratá-la com piedade (como se fosse incapaz);
Centrando-se apenas no objetivo do ensino regular o trabalho não se desenvolve;
deve-se procurar realizar as tarefas da escola, mas adequando-as a situação peculiar da criança (nem
sempre a escola leva em consideração as singularidades);
Da mesma forma que em outros momentos, averiguar o conhecimento que a criança
possui, para, a partir dele, possibilitar novas aprendizagens, não restringindo o trabalho à realização de
atividades presentes nos livros didáticos e nos conteúdos e atividades propostas pela escola; abrir
espaço para que tanto o professor quanto o aluno possam realizar indagações, pergunte e
solucionarem dúvidas;
Fazer com que as atividades propostas sejam significativas, o que muitas
vezes significa trabalhar com temas relacionados à enfermidade ou à experiência da hospitalização;
possibilitar que a criança tenha iniciativa e possa propor atividades; - levar em conta a situação
subjetiva da criança, mas estar ciente de que o pedagogo, apesar de parecer não dispor de um
papel muito definido, não tem as mesmas funções que o psicólogo, o assistente social, ou o
recreacionista e localiza-se pelo exercício e contribuição da educação.
No desenvolver da observação, percebe-se que as sessões de acompanhamento, além
de procurar fazer com que as crianças ao retornarem à escola não estejam ou venham a se
sentir em defasagem em relação aos seus colegas, servem como um espaço de
expressão/operação de seus sentimentos. Deve-se estar atento, embora este não seja o objetivo
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principal do trabalho, para perceber e escutar quando as crianças expressam suas angústias,
dúvidas, seus medos, pois, muitas vezes, essas questões interferem no seu desenvolvimento e
no próprio processo de cura, pois além dos efeitos diretos do adoecimento, ocorrem outras
respostas reativas à hospitalização. E para que se possa ajudá-las, dentro do alcance
pedagógico, é necessária uma efetiva observação e estudo de seu processo cognitivo (o que
nos diz; de que forma diz; o que expressa a sua escrita; como está o seu desejo de aprender; quais
seus recursos de linguagem oral e escrita ou de leitura e com relação às operações matemáticas;
em que estágio do desenvolvimento cognitivo se encontra; como está com os trabalhos
escolares, etc.), resgatando-se a integralização do atendimento infantil.
Há uma experiência de prazer comum pela via do corpo e uma experiência de
comunicação de autorias quando há um processo de aprender. No jogo psicopedagógico de
mostrar e guardar, isto é, na situação de ensino, tomada como um desafio no qual o aluno
encontra algo de novo em cada nova situação, pode-se conectar a criança (o aluno) com o
desejo de conhecer, elegendo e selecionando, de acordo com sua história, aqueles
conhecimentos que poderia articular-se com seu saber (p.74).
A aprendizagem e o desenvolvimento infantil são processos eminentemente
socioculturais e construtivas das formas de viver, da assimilação dos estranhamentos diante
do desconhecido (objetos ou sentimentos) e da acomodação de novos aprendizados e
informes corporais ou intelectuais.
Para que esses processos se desenvolvam de forma efetiva, o atendimento
psicopedagógico às crianças hospitalizadas está reconhecido legalmente: o direito da criança
de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde e
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência no hospital, além da
contribuição inequívoca às equipes interdisciplinares no que se refere à compreensão das
fases cognitivas e o respeito a estas ao se lidar com a informação da criança sobre
diagnóstico, cuidados e prognóstico.
Pensar a criança com todas as suas necessidades específicas, e não só na
necessidade de recomposição do organismo doente, e organizar uma assistência
hospitalar que corresponda ao seu nível de desenvolvimento e realidade biológica
cognitiva, afetiva, psicológica e social demonstra urna iniciativa de reformulação do
modelo tradicional de atendimento pediátrico até então usados.
O reconhecimento de que existem outras necessidades na vida de uma criança
hospitalizada, não apenas cuidados clínicos, significa reconhecer que outros fenômenos
possuem igual relevância no agravamento ou restabelecimento de quadros mórbidos.
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Independentemente de pensarmos um estado de cura definitiva, em situações de doença,
devemos pensar na qualidade de vida oportunizada às crianças, uma vez que sua força de
vontade e atribuição de significados diante do adoecimento e hospitalização estará
construindo sua subjetividade, suas características de aprendizagem e construção de
competência intelectual.
O hospital não é o local usual de trabalho de um profissional da psicopedagogia. Portanto,
tanto o profissional, como a instituição necessita de um período de adaptação e reconhecimentos
para o engedramento das adaptações trocas possíveis. O ambiente de trabalho difere do
costumeiro ambiente escolar. Embora eventualmente se tenha uma sala específica para o
atendimento psicopedagógico são muitas as especificidades desse acompanhamento às
crianças que estão hospitalizadas.
Primeiramente, são necessários que se conheçam as dependências e funcionários das
unidades de internação, para que no caso de alguma criança sentir-se mal durante a aula, o
professor saiba como proceder de imediato e também a. quem e onde recorrer. Evita-se
assim, que a criança seja prejudicada em função de desinformação. Em segundo lugar, é
importante que se conheça um pouco sobre as diferentes patologias, para que se possa
respeitar os limites clínicos de cada criança e para que se tenha a sensibilidade de perceber
quando a criança não está bem, não exigindo atividades que estejam acima de seus limites
físicos.
A Psicopedagogia herda da psicologia, o velho problema do paralelismo psicofísico (o
observável e a consciência). Essas duas áreas não são suficientes para apreender o objeto de
estudo da psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear que
pratica recorre, às vezes é necessário, ainda outras áreas (filosofia, neurologia, sociologia,
lingüística e a psicanálise e outras) para ajudar a alcançar a compreensão desse processo.
Baseia - se nos indicativos de CECCIM apud ORTIZ e FREITAS (2005):
“Parece-me que, para a criança hospitalizada, o estudar emerge como um bem da
criança sadia e um bem que ela pode resgatar para si mesma como um vetor de
saúde no engendramento da vida, mesmo em fase do adoecimento e da
hospitalização” (p.47).
Dentro desta realidade, observa-se uma demanda de atendimento em hospitais infantis,
onde se faz necessário uma nova ação pedagógica. Sabendo-se disso, a Resolução 02
CNE/CEM MEC/ Secretaria de Estado da Educação – Departamento de Educação Especial,
datado em 11 de setembro de 2001, determina expressamente que a implantação de
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hospitalização escolarizada com a finalidade de atendimento pedagógico aos alunos com
necessidades especiais transitórias e conseqüentemente a elaboração de cursos acadêmicos
destinados a atender nova demanda.
Por outro lado, o direito a saúde, segundo a Constituição Federal (Art.196), deve ser
garantido mediante políticas econômicas e sociais que visem ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços, tanto para a sua promoção, quanto para a sua proteção e recuperação.
Assim, a qualidade do cuidado em saúde está referida diretamente a uma concepção ampliada
em que o atendimento às necessidades de moradia, trabalho, e educação, entre outras,
assumem relevância para compor a atenção integral. A integralidade é, inclusive, uma das
diretrizes de organização do Sistema Único de Saúde, definido por lei (Art.197). (MEC, maio
2002).
A visão de inúmeros professores, hoje, é muito tradicional quando se fala em
Pedagogia Hospitalar, pois para alguns o ato de educar se estende da escola a família,
retirando de muitos pacientes o direito a educação, restringindo-se somente as salas de aulas
convencionais.
Esta nova visão de educação está ligada à demanda existente nos diversos hospitais e
aos parâmetros já definidos por lei, no qual se faz necessário uma medida emergencial para
que exista de fato a educação continuada em todas as unidades hospitalares, sendo esta uma
forma de prevenir o atraso da educação. Diz Ronca em uma entrevista para a Revista Nova
Escola: “A escola precisa aprender a mover-se em outros espaços, sem fazer da sala de aula a
única passarela em que desfila o conhecimento”.
Por outro lado, a pedagogia hospitalar também é vista como um desafio e uma grande
conquista para os profissionais atuantes na área. Aqui o educador desenvolve a sua atuação de
forma contributiva, transmitindo o conhecimento àqueles que seriam prejudicados em sua
escolarização decorrente da internação, em uma busca valiosa de conhecimentos, qualidade de
vida bem-estar ao educando enfermo. Com isso, é interessante informar que são plenamente
consoantes com a lei especifica vigente, em plena contribuição a política nacional de
educação e saúde em prol do atendimento qualificado ao hospitalizado. A prática docente é
fortemente marcada pelas relações afetivas, servindo de reforço para que a criança não desista
da luta por saúde e se mantenha esperançosa em sua capacidade de esforço. O professor passa
a ser um mediador de estímulos cauteloso, solícito e atento, reinventando formas para desafiar
o enfermo quanto à continuidade dos trabalhos escolares, a vencer a doença e a engendrar
projetos na vida emancipatória.
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De acordo com Fonseca (2003), a rotina de vida é alterada, uma vez que as refeições
(agora denominadas dietas) podem não ser servidas nos horários com que, quando fora do
hospital, estava habituado; a cama (agora chamado de leito) e as roupas não são como as de
casa; o cheiro do ambiente é outro etc. Com isso o processo de internação pode ser amenizado
também com a presença de objetos que fazem parte da antiga rotina da criança, como
travesseiros, bichinhos, cobertos, livros, entre outros. Dessa forma consegue-se diminuir a
ansiedade gerada na criança diante deste procedimento tão agressivo na vida do paciente.
Outro cuidado fundamental a ser analisado é o procedimento cirúrgico, no qual a criança será
submetida, nestes casos é muito importante que a comunicação seja clara entre a criança e a
equipe hospitalar, pois falsear dados a ela poderá aumentar o sentimento de angustia e
desconfiança. Por isso que em alguns hospitais já utilizam o “pacientinho”, uma boneca que
os médicos dispõem para demonstrar os procedimentos que serão realizados com a criança,
como aplicações de injeções, soro, assim a criança se familiariza e corrija suas fantasias
relacionadas com os procedimentos que ela será submetida. Todos os integrantes da equipe
hospitalar podem de alguma forma amenizar o sofrimento e os receios da criança, por isso que
a Pedagogia Hospitalar não auxilia somente nas atividades curriculares, mas no
encorajamento diante dos procedimentos acima relatados. O educador, o assistente social, o
psicopedagogo e os demais profissionais afins, devem buscar em si próprios o verdadeiro
sentido de “educar”, devem ser o exemplo vivo dos seus ensinamentos e converter suas
profissões numa atividade cooperadora do engrandecimento da vida.
O processo de humanização, diz a autora, deve iniciar pelo “Eu”, para depois
autorizar-se a olhar outro. Portanto, não é só o conhecimento teórico sobre a Psicopedagogia
Hospitalar e sua aplicabilidade que humaniza a relação, mas também a dinâmica de interação
que se estabelece entre o psicopedagogo, o paciente e os demais integrantes da equipe
hospitalar, pautada em princípios éticos e bioéticos, contextualizados no tempo e no espaço do
hospital.
Assim, a aprendizagem humana em seus diferentes contextos é o objeto de estudo da
Psicopedagogia, portanto a ação psicopedagógica proposta se faz necessária e torna possível a
integração do psicopedagogo à equipe interdisciplinar no hospital. Esse profissional deve
estar imbuído de competências para lidar com situações do cotidiano hospitalar, que exigem
aprendizagem por meio de múltiplos processos.
A interação psicopedagógica hospitalar não está restrita apenas ao paciente infantil, mas
também a todas as faixas etárias. O que vai diferenciar o processo de intervenção são as
dinâmicas conduções e os recursos adotados pelo psicopedagogo.
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Boff (2000) afirma que:
Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação dialogo eu-tu seja
libertadora, sinergética e construtora de aliança perene de paz e de amorização.
(BOFF, 2000:139) “A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdiço da
vida está no amor que damos nas forças que não usamos, na prudência egoísta que
não arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
“O sofrimento é opcional.”
A Psicopedagogia hospitalar apresenta uma das novas especializações da
Psicopedagogia, que vem dar suporte e apoio de aprendizagens e reaprendizagens ao paciente
interno, humanizando e contribuindo para promoção da Saúde.
A Psicopedagogia hospitalar tem o propósito de tornar esse ambiente hospitalocêntrico
em uma estada passageira e, na medida do possível, lúdica, mesmo para aqueles que se
encontram acamados.
O homem é um ser social, necessita de outros para conviver em nossa sociedade. A
comunicação é feita por palavras, gestos, escrita, enfim, por trocas, afeto, amor, raiva e todos
os sentimentos pertinentes à espécie humana. A vida é um constante movimento e, quando
paramos, deixamos de sentir com todas as nossas forças o sopro da vida.
Durante as internações, à hora da visita é estimulante para uns pacientes, pois a família
compartilha a dor, incentiva na recuperação. Para os outros, é triste, pois, quando não existe
ninguém que vá visitá-lo, vem à solidão, a depressão, o medo da morte. É aqui que nós
entramos também com o nosso sorriso, nossa alegria, invadindo um espaço que estava vazio,
mas agora somos ponto de referência, como já dissemos para crianças, adolescentes, adultos e
idosos. Esse é somente um dos papéis do psicopedagogo.
A proposta da Psicopedagogia hospitalar é ser o interlocutor, não só de crianças, mas
também de todos aqueles que passam por internações, sejam elas curtas, médias e de longas
durações doenças crônicas e de pacientes terminais, dando o de melhor de nossa atenção e
técnica, mas criando um mundo, onde pessoas se preocupam com outras.
Entretanto, na área humana, toda atuação deve estar pautada em princípios éticos e da bioética
estabelecidos. São direitos do ser humano que, em nenhum momento, podem ser
transgredidos. São eles:
Direito à privacidade
Direito ao sigilo
Direito ao consentimento informado
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Direito à auto-estima
Nas equipes médicas, de Enfermagem, assistentes sociais, auxiliares e técnicos de
Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Fonaudiologia, fisioterapeutas nas demais equipes aqui
não citadas que deverão repensar reavaliar suas práticas por meio de Dinâmicas com
psicopedagogos hospitalares, tendo como objetivo principal programar, incrementar,
internalizar o processo de “HUMANIZAÇÂO NO HOSPITAL E NA SAÚDE”.
O ponto de partida para os psicopedagogos trabalhar é identificar o sujeito
relacional/real, ou seja, como anda a relação desta criança como o outro, o outro com ela e ela
consigo mesma. No primeiro momento, irá trabalhar com o sujeito afetivo, identificando neste
sujeito o que ele mais gosta e sabe fazer, buscando os caminhos para resgatar a auto-estima e
não deixando entrar em uma depressão, que, neste primeiro momento, é bastante comum.
È importante esclarecer que o psicopedagogo na instituição hospitalar auxilia a parte
pedagógica de crianças hospitalizadas por curto período, além daquelas onde a internação é
mais longa e outras que estejam sem possibilidade de cura, garantindo estas condições pra
uma sobrevida digna até quando esta deixar de existir. Para transcender o enfoque linear e
alcançar uma percepção total dos fatos, é necessário ser capaz de liberar os conceitos e os
preceitos adquiridos anteriormente. A percepção do novo dependendo da capacidade de
descobrir, e aqui chegamos a uma encruzilhada muito especial: O que é descobrir? Descobrir
é tirar os véus, isto requer coragem e certa dose de loucura. Esta descoberta não depende de
conhecimentos científicos, mas sim da capacidade de encantar-se da capacidade de soltar-se
para buscar o novo.
Sendo assim, o ambiente também deve funcionar uma brinquedoteca que deve ser
aconchegante, limpo, arrumado, ao final de cada sessão. Para as crianças que estão acamadas,
as atividades podem ser feitas no leito do paciente, sempre observando o esforço, as
limitações do paciente, entre outros estímulos que possam interferir na recuperação. Os
brinquedos serão classificados de acordo com a idade, a praticidade, entre outros aspectos.
A classificação dos brinquedos serve como recurso para organização de materiais
lúdicos no ambiente da brinquedoteca.
A brinquedoteca surge como uma alternativa aos problemas de vida na sociedade
contemporânea, na qual a falta de espaço e de segurança restringe e/ou impede o brincar
infantil.
Cada brinquedo é classificado a partir de sua função e de sua relação com os interesses
e os desenvolvimentos da criança. Para Urrutigaray (2003), a Arteterapia consiste em
possibilitar que a emergência de uma imagem imaginada se transforme em imagem criada, a
23
partir da utilização de materiais plásticos, que cedem sua flexibilidade e sua maleabilidade a
quem os utiliza para expressar seus conteúdos íntimos. A experiência do trabalho com
Arteterapia que também proporciona a possibilidade de reconstrução e de integração de uma
personalidade. Contribuindo como procedimento prático e apoiado em um referencial teórico
de suporte, permitindo a aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para a melhora da
vida humana.
Cionari (2004) acredita que a Arteterapia cuida da pessoa humana em sua totalidade e
em sua essência mais profunda, integrando as áreas básicas do homem (neurológica,
cognitiva, afetiva e emocional) e promovendo o aprimoramento das funções egóicas
(percepção, atenção, memória, pensamento, capacidade de previsão, exploração, execução,
controle da ação).
Valadares e Fussi (apud PHILIPPINI,2004) afirmam que o processo de estimulo à
criatividade permite aos clientes a expressão e a comunicação de idéias emoções,
possibilitando o aumento de sua auto-estima e a expansão emocional, diminuindo sua
ansiedade.
De acordo com Christo (2005), Arteterapia é um processo do qual as imagens são o
guia em que as técnicas são facilitadoras do surgimento dos símbolos pessoais.
Encontra-se na Arteterapia um excelente canal de intervenção para a minimização de
problemas de aprendizado, ou de tratamento de dificuldades de aprendizagem, como também
de modo preventivo às possíveis questões de aquisição de conhecimento.
A plasticidade do material usado pelo psicopedagogo empresta à sensibilidade de
quem usa a oportunidade de vivenciar novas formas de lidar com determinantes padrões. As
múltiplas possibilidades encontradas agem de maneira estruturante, fazendo de quem se
utiliza desses materiais à aquisição de experiências libertadoras, por retirar bloqueios,
inibições, preconceito e isolamento, buscando autoconhecimento e resgatando valores
essenciais ao homem.
A arte também faz parte da psicopedaggogia. Nasce espontaneamente e, quando
estimulada livremente, mostra toda vivencia do mundo. Qualquer pessoa, em contato com a
arte, intelectualiza o fato, sente o momento, percebe como todos os sentidos sensibilizam-se
com a organização e a harmonia das cores, das formas, dos sons e dos movimentos, situa-se
em um meio social, cria e recria: vivencia.
No trabalho com crianças e adolescentes, é essencial saber como pensa, sente e atua
uma criança nas mais variadas faixas etárias, assim como seus interesses em cada idade, a
forma como se expressa e seu desenvolvimento por meio das diferentes expressões criadoras.
24
Em Arteterapia, pode-se trabalhar com técnicas que privilegiam o universo
bidimensional e outras que exploram o tridimensional. Com tridimensionalidade (volume),
estamos mais próximos do palpável, do concreto, da vida real que tem três dimensões: catas,
recorte e colagem. A bimensionalidade (chapado) que permite reconhecer, representar e
expressar.
Numa classe hospitalar deve possuir propostas curriculares que devem prever o
aprofundamento de conteúdos, a extensão de conhecimentos e a utilização de novas estratégias
e métodos de ensino para os diversos níveis de escolaridade.
Segundo Novaes (1979), para conviver bem com a criança em sala de aula, é preciso,
antes de tudo, que o psicopedagogo o aceite como tal, e assuma seus próprios limites, a fim de
ser solícito e ao mesmo tempo firme de forma que não haja competição com o aluno, e sim,
uma relação de ajuda mútua.
Segundo Novaes (1979), o psicopedagogo, em geral, aprecia na criança três
características: habilidade acadêmica, alta motivação e conformismo social. Assim, é de se
supor que as crianças que fogem a tais “moldes”, como é o caso da esmagadora de muitas
dessas crianças, tornem-se insatisfeitas e frustradas e desapontem pais e professores.
Segundo José e Coelho (1999), na classe hospitalar, esse tipo de criança merece atenção
especial, pelo menos para ter oportunidades educacionais correspondentes à sua idade
cronológica e a suas outras aptidões, e para desenvolver plenamente suas potencialidades
sociais, estéticas e intelectuais. Currículos demasiadamente fáceis, que não oferecem desafios, e
aulas ministradas com vistas à média classe irão aborrecê-la e, conseqüentemente, diminuir seu
interesse.
Apesar das diferenças entre a atuação dos professores hospitalares e dos professores
das classes regulares pode-se afirmar que o trabalho realizado pelos professores dos hospitais
se assemelha ao que é previsto nos documentos seguintes, estando assim, em consonância
com os princípios que regem o atendimento pedagógico-educacional destinado a crianças,
jovens e adultos hospitalizados, assegurados pelo Ministério da Educação (BRASIL, 1994). O
mesmo é apresentado no Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado (Resolução n.
41, out. 1995), segundo o qual “[...] toda criança tem direito de desfrutar de alguma forma de
recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar
durante sua permanência hospitalar” (BRASIL, 1995).
De acordo com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente –
Resolução 41/95, a criança tem:
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1. Direito a proteção, a vida e a saúde com absoluta prioridade e sem qualquer
forma de discriminação.
2. Direito a ser hospitalizado quando for necessária ao seu tratamento, sem
distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa.
3. Direito de não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por
qualquer razão alheia ao melhor tratamento da sua enfermidade.
4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo
período de sua hospitalização.
5. Direito de não ser separada de sua mãe ao nascer.
6. Direito de receber aleitamento materno sem restrições.
7. Direito de não sentir dor, quando existam meios para evitá-la.
8. Direito de ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados
terapêuticos e diagnósticos, respeitando sua fase cognitiva, além de receber
amparo psicológico quando se fizer necessário.
9. Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação
para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar durante sua
permanência hospitalar.
10. Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu
diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os
procedimentos a que será submetida.
11. Direito a receber apoio espiritual/religioso, conforme a prática de sua
família.
12. Direito de não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e
terapêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e
o seu próprio, quando tiver discernimento para tal.
13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para sua cura,
reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.
14. Direito a proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou
maus tratos.
15. Direito ao respeito à sua integridade física, psíquica e moral.
16. Direito a preservação de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos
espaços e objetos pessoais.
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17. Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação de massa, sem a
expressa vontade de seus pais ou responsáveis ou a sua própria vontade,
resguardando-se a ética.
18. Direito a confidência dos seus dados clínicos, bem como direito de tomar
conhecimento dos mesmos, arquivados na instituição pelo prazo estipulado
em lei.
19. Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da
Criança e do Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente.
20. Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados
todos os recursos terapêuticos disponíveis.
A escola hospitalar é um lócus específico de Educação destinado a prover
acompanhamento escolar a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de
tratamento de saúde que implique internação hospitalar ou atendimento ambulatorial.
Sabe-se que buscando adequar-se ao que prevê a legislação em vigor, o MEC através
de sua secretaria de Educação Especial realizou revisão de sua documentação no âmbito das
estratégias e orientações para o trabalho psicopedagógico e pedagógico com portadores de
necessidades especiais. Em decorrência, a área de atendimento escolar hospitalar e de
atendimento psicopedagógico domiciliar passou a dispor de publicação que regulamenta a
implantação do trabalho escolar de crianças adoentadas, estejam estes hospitalizados ou não
(MEC/SEESP, 2002).
Refletindo sobre o que consta no paradigma da inclusão e sobre as iniciativas oficiais,
relacionadas à promoção de uma escola para todos, Fonseca (2003) considera ser a expressão
escola hospitalar (atendimento escolar no ambiente hospitalar) de uso mais adequado, do que
a terminologia classe hospitalar que, embora usada pelo MEC (SEESP) e definida, do mesmo
modo, como atendimento escolar que se dá no hospital, se presta a interpretações equivocadas
e parece segregativa: como se a escola para as pessoas doentes tivesse que ser essencialmente
diferente da escola que qualquer individuo freqüenta.
Acrescenta ainda que, a palavra classe tem significado diverso de acordo com a região
do Brasil em que nos encontremos, podendo ser atendida como aula, grupo de alunos ou
turma. Também pode referir-se à condição sócio econômica ou à atuação profissional como,
por exemplo, classe médica na área de saúde.
O uso do termo escola hospitalar vai de encontro ao contexto atual. Quer-se, assim,
reforçar que toda pessoa precisa de uma escola e esta escola deve se adequar aos interesses e
necessidades do individuo independente dele estar, ou não, hospitalizado. Seguindo este
27
raciocínio, escola hospitalar ratifica como dito anteriormente, a idéia da escola para todos
como preconiza a legislação vigente.
A Escuta em Saúde como Agenciamento da Vida diz-se que boa parte das condutas,
em saúde é bem-sucedida quando o paciente pode falar e for ouvido, que basta saber ouvir o
que o paciente tem para dizer que já se inicia sua melhora, mas quero diferenciar essa audição
(também necessária) da escola em saúde.
O termo escuta provém da psicanálise e deferencia-se da audição. Enquanto a audição
se refere à apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta se refere à
apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras, as lacunas
do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e gestos comuns e posturas.
A escuta não se limita ao campo da fala ou do falado, ao contrário, busca perscrutar os
mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das
forças de vida que engendram nossa singularidade. Uma escuta em saúde é mais genérica,
mas também mais específica. Numa perspectiva de atenção integral, como escuta à vida, o
desenvolvimento da escuta se dirige à promoção da saúde (produção de vida e de sentidos) e
não só ao tratamento. A escuta é exercer a sensibilidade com a intenção de agenciar as forças
de vida que povoam os mundos interpessoais para a invenção de novos territórios ao ser
saudável-adoecer-curar.
Quando se propõem uma escuta psicopedagógica à criança hospitalizada, estar se
propondo lançar um novo pensar à atenção de saúde da criança que está doente e que vivencia
a internação hospitalar. Sua vida não só continua em processo de aquisição de aprendizagem
formais como tem no seu desenvolvimento intelectual, uma importante via de apropriação
compreensiva do que lhe acontece no hospital e na estimulação cognitiva, uma instilação de
desejo de vida, que pode repercutir como vontade de saúde para o restabelecimento ou para a
produção de modos positivos de viver, uma vez que o aprender se relaciona com a construção
de si e do mundo.
Wallon (1986) considera que o ser humano é organicamente social e sua estrutura
orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar. E sua teoria quanto ao
desenvolvimento cognitivo é centrada na psicogênese da pessoa completa. A criança desde
seu nascimento é um ser simultaneamente biológico e social. Portanto esse trabalho, também
está comprometido com a psicogenética Walloniana, onde inclui a Afetividade, a Inteligência
o Eu e o Outro e uma escola engajada, inserida na sociedade e na cultura, ao mesmo tempo,
comprometida com o desenvolvimento dos sujeitos, numa pratica que integra a dimensão
social e individual.
28
O reconhecimento de que existem outras necessidades na vida de uma criança
hospitalizada, não apenas clinicas, significa reconhecer que outros fenômenos possuem igual
relevância do agravamento ou restabelecimento de quadros mórbitos. Interdependentemente
de pensarmos um estado de cura definitiva, em situações de doença, devemos pensar a
qualidade de vida oportunizada às crianças, uma vez que sua força de vontade e atribuição de
significados, diante do adoecimento e hospitalização, estará construindo sua subjetividade e
suas características de aprendizagem e construção de competência intelectual.
Ao psicopedagogo cabe uma escuta que autoriza um sentimento de aprendizagem,
progresso, avanço, transposição do, não sei, para o agora sei (como na cura), para o saber
mais e ganhar maior autonomia dentro de relações que são sociais de conexões que são
coletivas, de agenciamentos múltiplos para a inteligência, despertando um desejo de cura
como mobilização das necessidades de vida (o conhecimento é circulação em grupo social).
O corpo humano, segundo Capra (1982, p. 116), termina considerando como “uma
máquina que pode ser alisada em termos de suas peças” e a doença vista como “um mau
funcionamento dos mecanismos biológicos e que deve ter o seu defeito consertado”. Para o
autor, a medicina atual não vê a pessoa “como um ser humano completo”, chegando “até
mesmo a reduzir a saúde a um funcionamento mecânico”.
O ser humano é um ser sensível por natureza, não só quando está doente. E, ao sentirse
doente, a pessoa torna-se mais fragilizada, negativista e receptiva às ordens médicas e
recomendações até a sua recuperação total, se chegar a tê-la. A escola nesse momento deve
ser considerada indissolúvel na relação individuo com a sociedade e manter o equilíbrio entre
elas, favorecendo a auto-estima do estudante e o seu desenvolvimento cognitivo.
Numa perspectiva educativa Piaget oferece teoria didática que pode desenvolver as
capacidades e habilidades cognitivas e afetivas do individuo por meio de estímulos. Já
Vigotsky ensina que o professor é o mediador entre o sujeito e o objeto de estudo. Enquanto
que Wallon propõe uma teoria pedagógica tendo o “meio” como um conjunto de circunstância
no qual as pessoas se desenvolvem interagindo com o outro.
Como relevância social esse artigo poderá ser considerado como recurso
psicopedagogico neste universo em particular, tornando-se publico, servido de referencial
teórico-prático a quem possa interessar, acreditando que os dados obtidos na pesquisa e
mesmo na literatura disponível sobre o tema, sejam propulsores para desencadear novas
investidas a respeito da Escuta Pedagógica: Um ato de humanização educacional, visto que o
assunto traz questões decorrentes de todo um novo contexto na educação contemporânea,
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podendo também propiciar mais qualidade ao trabalho realizado nas classes hospitalares e
regulares.
30
7. METODOLOGIA
A pesquisa de campo teve início no dia quatro de março de dois mil e nove (04.03.09), às
9h, com uma visita ao Hospital Sarah para conhecer sua estrutura e realizar uma pesquisa de
campo nesta unidade de ensino.
A partir daí começamos a realiza nossa análise conversas formais e informais, análise
de comportamentos dentro da classe hospitalar, foi possível promover o diálogo, a troca de
idéias, informações, entrevistas com o aluno-paciente, família e professor, investigações
atribuindo sentidos aos conhecimentos da criança reconhecendo seu valor como um ser
pensante e captador da cultura. Sendo que o aluno-paciente às vezes pode ser atendido nos
leitos com algumas restrições e equipamentos adequados como, pranchetas, lápis, borrachas
esterilizados, a professora usa luvas, touca e máscara, a estrutura da sala bastante arejada,
quadro piloto, mesas e cadeiras, estantes com gibis, jogos, revistas, jornais, tintas, etc. mural com
atividades das disciplinas, junto com a rotina semanal. O plano de aula é feito pelos alunos e a
professora semanalmente, de acordo com o cronograma mandado pela escola regular. As
entrevistas analisadas neste estudo fazem parte de um projeto de pesquisa mais amplo que
objetiva analisar os significados construídos por professores e familiares sobre a inclusão
escolar de alunos com distúrbios neuromotores e outras necessidades especiais.
Optou-se pela metodologia qualitativa, pois esta permite um aprofundamento na
análise dos dados de conversação e nos significados que regem as enunciações, referentes às
relações dialógicas estabelecidas entre entrevistador e entrevistado em relação ao tema de
estudo. É um processo complexo de construção conjunta de conhecimento, que atenta para os
aspectos relevantes à exploração de um problema humano ou social, levando em consideração
a relação estabelecida entre os participantes, o processo de construção e análise dos dados,
além da importância dos significados. Em psicologia do desenvolvimento, a pesquisa
qualitativa prioriza a construção dos dados por meio de entrevistas e da observação.
Todo trabalho científico é baseado em informações mais objetivas possíveis e os dados
possibilitam a caracterização de um determinado fenômeno em vários de seus aspectos. Os
procedimentos aqui utilizados sugerem essa premissa de pesquisa cientifica.
Para o levantamento destes dados de informações contidas em estudos anteriores a esta
análise das realidades locais em estudos, incluindo as práticas educacionais, foram realizadas
pesquisas bibliográficas e documentais. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizado o
método empírico, visto que este é desenvolvido com base em observações, questionários,
31
consultas a especialistas. O presente estudo teve uma base bibliográfica seguida por parte
prática, realizada através de uma pesquisa de campo.
A pesquisa qualitativa apropria-se de instrumentos de coleta de dados como entrevista
e questionário, a técnica não-verbal de artes e a expressão escrita do paciente aluno para
penetrar na ambiência de algumas classes hospitalares brasileiras. No transcurso da
investigação, as evidências registraram que as classes assumem identidade educacional,
apresentando fazeres escolares, remontando-os com metodologia lúdica e anunciando que o
contrato suscita, também, qualidade de vida intelectiva e sociointerativa. Como instrumento de
análise de informações foi utilizado os relatos registrados em diários de campo das intervenções
psicopedagógica e de todas as interações consideradas significativas, ocorridas durante a
observação no serviço de internação pediátrica (reuniões, conversas informais, cursos); As
entrevistas realizadas com a criança, seus pais, equipe assistencial e professor de sua escola de
origem e os material bibliográfico relativo às diferentes patologias e aos trabalhos e estudos
semelhantes ao programa escolar
Conseguimos, também, até o presente momento, fazer um levantamento de algumas
características clínicas do aluno paciente com as quais mais se trabalha, por exemplo, os
portadores de doenças osteológicas estabelecendo as diferentes implicações de tais
características no trabalho psicopedagógico.
A criança hospitalizada necessita de uma maior atenção e de sentir-se, de alguma
forma, próxima da sua realidade fora do hospital, isto é, vinculada ao cotidiano infantil
comum ou ao mundo, como interpretado pela criança, visando proporcionar expectativas
positivas de reinserção social. Por isso, sessões de acompanhamento psicopedagógico,
pedagógico e psicológico têm um planejamento individualizado, que precisa ser estruturado de
acordo com a realidade e necessidades de cada aluno paciente
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8. INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
8.1. Na Classe hospitalar
J. D. deu entrada no hospital com problema na perna, chamado Mal de Blaut, que é
uma projeção do joelho para fora da linha média do corpo, causada principalmente pela
hipertrofia da musculatura interna da coxa e/ou hipotonia da musculatura lateral da coxa. É
conhecido também como “pernas de cowboy”, consiste numa angulação externa da
articulação do joelho, com o eixo do fêmur e da tíbia desviando-se medialmente. Pode
desequilibrar os arcos plantares ocasionando o pé supinado, tendão calcâneo varo. Com isso,
se submeteu a uma cirurgia para correção, ficando internado por três meses,
aproximadamente. Sendo assim, esteve afastado do convívio social e, conseqüentemente, da
escola regular. Muitas vezes a idéia de incapacidade e a falta de estimulação motora e/ou
cognitiva apropriada dificulta de forma importante o retorno à vida escolar e social. O
presente trabalho visa apresentar a atuação do professor hospitalar nos programas de
reabilitação do paciente lesado e as estratégias de estimulação cognitivas e/ou motoras
realizadas por professores hospitalares, por meio de atividades pedagógicas e
psicopedagógicas diversificadas que acontecem durante o programa de reabilitação do alunopaciente
internado.
A intervenção foi realizada por meio de abordagens individuais e em grupos formados
por pacientes, que após serem admitidos e avaliados pela equipe interdisciplinar, foram
inseridos nas atividades conforme seus interesses e o tipo de estimulação cognitiva e/ou
motora que necessitam. Dessa maneira, tornou-se possível a estimulação de habilidades, tais
como: coordenação motora fina, habilidade manual, raciocínio lógico - matemático
planejamento de ação, flexibilidade mental e raciocínio verbal, em atividades que se
caracterizam por propiciar aos pacientes a vivência de ações que o mesmo realizava em seu
dia-a-dia anterior à lesão, tais como: grupo de reeducação da escrita, oficina de trabalhos
manuais, atividades de vida prática e socializações.
O programa psicopedagógico contribui para o retorno do paciente às atividades de
vida diária e reintegração escolar e social, pois esses desenvolvem novas estratégias motoras
e/ou cognitivas para resolução de problemas que são vivenciadas, utilizando recursos de
estimulação terapêutica – trabalhos com barro, água, areia, jogos, pinturas e desenhos.
Por causa de sua disfunção física, que não lhe permite desenvolver atividades mais
elaboradas, pode-se utilizar desses outros mecanismos que fazem parte de uma terapia,
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desenvolvendo conhecimentos teóricos e práticos em Psicopedagogia visando uma atuação
profissional eficiente nas áreas de atuação preventiva – propondo reflexões sobre o histórico
social do educando, as políticas públicas, a organização do trabalho pedagógico da escola,
estudo sobre as teorias da aprendizagem, diagnosticando e elaborando projetos de pesquisa e
de ação, na promoção do sucesso escolar do sujeito possibilitando uma ressignificação com o
saber, no contexto da educação formal e não formal.
Foi promovido, a partir de uma visão sócio-interacionista, um trabalho voltado para o
um melhor desenvolvimento do aluno, por meio da interação sujeito/meio centrando o
processo do saber significativo, discutindo, pesquisando e propondo novas estratégias, de
contribuição da Psicopedagogia, em relação ao estudo do desenvolvimento e aprendizagem,
(da criança até a idade adulta), no processo da construção da identidade, socialização e
cidadania.
As estratégias da intervenção consistiram em promover o diálogo, a troca de idéias,
informações entre aluno, família e professor em cada momento do aprendizado; reconhecendo
o valor da criança como um ser pensante e transmissor de cultura procurando garantir uma
aprendizagem com sucesso profissional.
E para resgatar alguma possibilidade de crescimento, deve se ensinar permanentemente
estratégias de tratamento que rompam com o isolamento e a marginalização que
historicamente são predestinados a indivíduos, tais como de crianças hospitalizadas.
Para que a criança se desenvolva de uma maneira sadia, é fundamental para ela uma
inter-relação rica em experiências, que lhe dê condições para testar através da aprendizagem,
na relação com o outro a conquista de sua autonomia. O apreço e a consideração são
condições básicas para a construção de uma auto-imagem positiva, que lhe dará maior
segurança nas resoluções dos possíveis conflitos com que venha a se deparar.
Um indivíduo com problemas sejam patológicos, sejam físicos, como é o caso de JD,
podem fazer vínculos que são fundamentais à construção de sua identidade.
Em entrevista com a família, a mãe de JD relata que o filho foi planejado e desejado,
mas quando JD nasceu o outro filho de 11 anos de idade (o único até o momento do atual
casal) cursava a 5ª série e entrou em depressão e que durante as aulas se trancava no banheiro
e assim perdeu o ano. Ao passar do tempo, foi-se superando as barreiras e a convivência com
o irmão cada vez melhorava até se tornar como hoje grandes e melhores amigos, um ajudando
o outro no que precisar.
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Teve o filho com 44 anos e o pai com 59 anos convive junto e mantém um
relacionamento de comunhão e amor. O pai já teve outra esposa na qual tem 6 filhos, todos
casados e com filhos, porém o pai de JD é avô de crianças até mais velhas que JD.
A mãe relata o dia de JD como um dia útil, com boa alimentação, escola e lazer
(leitura de livros, revistinhas, filmes, jogos, computador e até brincadeiras com esforços
físicos) contradizendo com o que foi observado na escola e a entrevista com a professora na
qual a própria mãe restringiu a criança à aula de Educação Física teoricamente a brincadeiras
de jogar bola, pega-pega e outras que envolvam perigos físicos devido a seu problema nas
pernas.
Segundo a mãe de JD, eles, os quatro da família atual (mãe, pai, filho mais velho e JD)
passam o tempo todo juntos quando esse não está na escola. Percebendo-se então, que a
criança não tem momento de brincadeiras, somente estudando e vendo TV ou acessando no
computador, nos dias letivos de aula, porém só brinca com muito cuidado quando vai à casa
de praia. Na escola a maioria são colegas, e só um é o mais achegado o que mais conversa,
trocando segredos e telefonemas.
A mãe afirma que o parto foi cesáreo, pesando bastante e chamava atenção de todos.
JD mamou até os 7 anos e 3 meses, por motivos de ter leite suficiente e o mesmo se
alimentava muito pouco e ela tinha prazer em amamentar, parando por decisão da mãe e com
conversas com o menino. Dormia muito bem durante a noite, uma criança bastante tranqüila,
foi crescendo ouvindo histórias de livros infantis e quando aprendeu a ler, além de ouvir as
tais histórias, ele queria lê-las, possui um psicomotor ótimo, suas palavras foram melhor
entendidas com 11 meses, entrou na escola com 3 anos, a sua adaptação foi normal e com 5
anos mudou de turno e só se adaptou com as mudanças com muitas conversas, seu rendimento
escolar foi muito bom, sempre relata de forma compreensiva o que assiste e a que faz.
Com 7 anos de idade, começa sua curiosidade sexual, nasceram alguns pêlos pubianos,
via revistas e acessava internet de mulheres sexys. Ele gosta muito de brincar de escondeesconde,
de bola, bicicleta, jogos de cantar, xadrez e computador, ele é bastante curioso, tudo
quer saber, perguntas fora de sua faixa etária e os pais respondem sem rodeios mostrando
sempre a realidade das coisas quando é palavra desconhecida vai ao dicionário e ao
computador.
A mãe afirma na entrevista que ele tem muitos amigos na escola e na vizinhança,
procurando orientá-lo em suas escolhas e no contato dos amigos e daqueles que se aproximam
dele. Na entrevista com o próprio JD ele se declara um ótimo aluno, tira boas notas, lê melhor
que os colegas e o que mais lhe agrada é ler revistinhas e livros científicos, aprendeu a ler
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rápido com o pai (em seus livros de histórias) e nas revistinhas em quadrinhos. Ele gosta do
salão de jogos, só que os colegas se interessam mais na bola e em outras brincadeiras que ele
não pode brincar devido ao problema de saúde da perna ficando sozinho no banco vendo e
comendo observando os colegas jogar bola.
Não há nenhuma intervenção da instituição e nem da professora para amenizar essa
situação. O problema da criança é físico, que compromete seu desenvolvimento emocional e
sua aprendizagem.
Foi promovida uma intervenção psicopedagógica, aconselhando a família a como lidar
com a criança e com a escola, para identificar as necessidades da criança. Tudo isso para que
possa trazer para essa criança resposta mais favorável para superar algumas das necessidades
acima expostas ou minimizá-las procurando:
Desenvolver conhecimentos teóricos e práticos em Psicopedagogia visando uma
atuação profissional eficientes nas áreas de atuação preventiva – propondo reflexões
sobre o histórico social do educando, as políticas públicas, a organização do trabalho
pedagógico da escola, estudo sobre as teorias da aprendizagem.
Diagnosticar e elaborar projetos de pesquisa e de ação, na promoção do sucesso escolar
do sujeito possibilitando uma ressignificação com o saber, no contexto da educação
formal e não formal.
Desenvolver pesquisas priorizando a realidade educacional, possibilitando assim novas
propostas de ação psicopedagogica.
Discutir, pesquisar e propor novas estratégias, de contribuição da Psicopedagogia, em
relação ao estudo do desenvolvimento e aprendizagem, (da criança até a idade adulta),
no processo da construção da identidade, socialização e cidadania.
A estratégia da nossa intervenção consiste em promover o diálogo, a troca de idéias,
informações entre aluno, professor da classe hospitalar e regular e família em cada momento do
aprendizado, reconhecendo o valor da criança como um ser pensante e transmissor de cultura
procurando garantir uma aprendizagem com sucesso profissional.
Além disso, a relação professor-aluno é um fato importante que deve ser constantemente
avaliado pelos profissionais da área. Muitas vezes, esta relação pode estar acontecendo de modo
negativo pelo fato do professor desconhecer o aluno, estar muito distante de suas necessidades,
ou por não saber identificar as suas fases, ou mesmo por não saber o que está se passando no
ambiente familiar da criança.
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Com base na nossa intervenção, segundo Bossa (2000), o psicopedagogo pode colaborar
na elaboração do projeto pedagógico, ou seja, através de seus conhecimentos ajudarem a escola
a responder questões fundamentais como: O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar?
Pode realizar o diagnóstico institucional para detectar problemas pedagógicos que estejam
prejudicando a qualidade do processo ensino-aprendizagem; pode ajudar o professor a perceber
quando a sua maneira de ensinar não é apropriada à forma do aluno aprender pode orientar
professores no acompanhamento do aluno com problemas de aprendizagem; pode ainda,
realizar encaminhamentos para fonoaudiólogos, neurologistas, psiquiatrias infantis, entre
outros. Nossa atuação neste caso é diagnosticar institucionalmente os problemas pedagógicos
que possam estar danificando a aprendizagem do aluno.
Quando a criança tem processo educativo inadequado na sala de aula, acaba ocupando
um lugar facilmente desacreditado por ele, por sua família e pela instituição. Sua capacidade
intelectual, psíquicas e sociais quase sempre será avaliada tendenciosamente, quando não
ignoradas. O mesmo ocorre com suas possibilidades de desenvolvimento adaptativo ou
transformação interior. A partir deste lugar ocupado, uma marca lhe é impressa. Um estigma
depreciativo imposto pelos outros a demarcará nas redes das relações interpessoais, passando
este registro a sobressair-se sobre o todo de sua personalidade, o qual, por sua vez estabelecerá
uma forma de ser tratado.
Para que a criança se desenvolva de uma maneira sadia, é fundamental para ela uma
inter-relação rica em experiências, que lhe dê condições para testar através da aprendizagem, na
relação com o outro a conquista de sua autonomia. O apreço e a consideração são condições
básicas para a construção de uma auto-imagem positiva, que lhe dará maior segurança nas
resoluções dos possíveis conflitos com que ulteriormente venha a se deparar.
8.2. Retorno na classe regular
Após a alta hospitalar, foi realizada uma intervenção na sua classe regular. J.D.
cursava o 4º Ano do Ensino Fundamental, integrante de uma turma com 27 alunos na faixa
etária de 8 e 9 anos, apresentando algumas dificuldades: faltava bastante por fazer fisioterapia,
problemas de saúde, constante desânimo dentro da sala de aula, deixando quase todas as
atividades incompletas, tanto de classe quanto de casa, chegava todos dos dias atrasado, já
praticamente no 2º horário, porém escreve e se expressa muito bem, apresenta trabalho
oralmente com segurança de conteúdo e nas avaliações escritas faz tudo com 95% a 100% de
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acerto, não gosta de escrever e nem das aulas, afirmando que tudo que a professora diz ele já
sabe.
A partir dessa explanação, pretendemos contribuir nesta intervenção com as propostas
relatadas acima de uma verdadeira escola inclusiva e propomos também a professora a
modificar a sua metodologia colocando esse aluno para iniciar o assunto em estudo ou colocá-lo
para orientar os colegas com mais dificuldade, pois ele sabe o assunto a ser abordado, na
maioria das vezes. Assim, ele se interessaria mais nas aulas.
Em entrevista, a professora conta que o que mais a preocupa nesta criança nesse
momento é que começou o ano letivo depois da turma por ter sofrido intervenção cirúrgica. Ele
apresenta rejeição às regras. Em contrapartida, é crítico e usa termos pertinentes ao assunto
abordado.
J. D. usa bem as palavras e discorre sobre o cotidiano. O que realmente preocupa a
professora é o fato dele não obedecer às regras de horário, por exemplo, e a compulsão
alimentar, que é parte do problema, mas não é nossa abordagem fundamental. Observamos que
a genitora é permissiva diante de várias situações: horário de chegada à escola, quantidade do
lanche, resolução das atividades de casa, entre outras coisas. Percebemos que a família persiste
em apoiar o aluno nesse estágio infantilizado.
Quanto a aspectos de relacionamento, é uma criança alegre, dócil, com pouquíssimos
amigos, somente na escola, principalmente um, o Alan, o qual ele se preocupa bastante por
apresentar muitas necessidades de aprendizagem, ele tenta ajudar essa criança a ponto de não
perceber que está prejudicando a si próprio e ao colega, como: “Não é assim que se faz, rapaz.
Apague que está errado” e coisas parecidas. A professora ao perceber separou os dois,
colocando-os bem a distância. É uma atitude que não ajuda a resolver o problema do tal
colega. Além de prejudicar, não se preocupa em ajudar a si mesmo, pensando que já sabe o
assunto.
J.D. senta na frente bem próximo da porta de entrada, olhando para trás o tempo todo,
distrai-se no conteúdo passado pela professora por estar atento em tudo ao seu redor, menos
nas suas obrigações. No momento do intervalo praticamente fica só, pois todos os outros
colegas vão brincar de bola, correr e outras brincadeiras e ele, por ter problemas na perna,
ainda não pode fazer tais coisas. Neste momento não há intervenção de ninguém, ele fica
merendando no banco e observando as outras crianças brincarem, aparentando estar triste e
aborrecido.
Quanto aos aspectos de compreensão geral e de raciocínio, possui um desempenho
expressivo em algumas áreas, ele enfrenta algumas dificuldades o que pode desencadear
38
problemas de aprendizagem de adaptação escolar. O aluno apresenta capacidade intelectual
geral, aptidão acadêmica especifica pensamento criador, capacidade de liderança, talento
especial para artes visuais dramática, capacidade psicomotora, flexibilidade e influência do
pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez no pensamento e
lentidão na escrita, julgamento crítico, independência do pensamento, elevada compreensão e
memória, capacidade de resolver e lidar com o problema. Todos esses aspectos foram
analisados através de testes educativos, dinâmicas de grupos, jogos e observações
prolongadas.
Quanto a área de aprendizagem específica, o aluno apresenta facilidade no
desenvolvimento em muitas áreas, principalmente nas áreas:
Linguística – possui sensibilidade para a língua falada e escrita, capacidade
para atingir certos objetivos. Tem um vocabulário muito avançado para a sua idade, para sua
série. Seu comportamento verbal se caracteriza por riqueza de expressão, elaboração e
fluência. Expressa idéia de diferentes modos, se fazendo compreender em todos eles.
Matemática – capacidade de, entre outras coisas, analisar problemas com
lógica, de realizar operações matemáticas e investigar questões cientificamente. Se envolve
com computação numérica, solução de quebra cabeças lógicos e a maioria do pensamento
científico foi detectado também que ele tem habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e idéias e para discriminá-lo a fim de solucionar seus próprios problemas,
conhece a si mesmo.
Motivação: necessita de poucas motivações externa e interna para dar
continuidade a um trabalho que o excita e o agrada.
Criatividade: demonstra grande curiosidade sobre muitas coisas ao mesmo
tempo, fazendo todo tipo de perguntas, principalmente para as pessoas com quem convive.
Liderança: é autoconfiante tanto no seu relacionamento com os colegas de
mesma idade, com no seu relacionamento com adultos. Apresenta e expõe seus trabalhos com
facilidade.
Planejamento: facilmente determina quais informações ou recursos são
necessários para realizar tarefas.
39
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto a análise e observação no Hospital Sarah, ficou evidente que é colocado, entre
seus objetivos, a produção do aprender com prazer. E, nada mais pertinente salientar que o
pensamento e a inteligência só se desenvolvem quando o processo de pensamento é
prazeroso.
Diante de tantos estudos bibliográficos, onde se procura fundamentar os objetivos
desse trabalho de conclusão de curso, cabe dizer que estamos em uma era em que a tecnologia
cada vez mais é apontada como solução para muitos dos problemas que ocorrem com o ser
humano. Nos centros hospitalares essa realidade não é diferente: cirurgias já estão sendo
feitas, com o auxilio de robôs e aparelhos de ultima geração e os sinais vitais dos pacientes
são monitorados por computadores. Não há como negar que tudo isso é bom e que ajuda a
salvar vidas, mas como fica o toque, o calor do ser humano, a sensibilidade para acalmar a
angustia, a dor, o medo e o sofrimento do paciente que são as questões que nós como
psicopedagogo temos que considerar.
E conforme foi visto, o atendimento escolar no ambiente hospitalar é um direito de
toda a criança ou adolescente que devido a condições especiais de saúde esteja hospitalizado,
é comparado legalmente, além de atualmente ser incentivado e direcionado em documentos
produzidos pelo Ministério da Educação.
O corpo humano, segundo Capra (1982, p. 116), termina considerando como “uma
máquina que pode ser alisada em termos de suas peças” e a doença vista como “um mau
funcionamento dos mecanismos biológicos e que deve ter o seu defeito consertado”. Para o
autor, a medicina atual não vê a pessoa “como um ser humano completo”, chegando “até
mesmo a reduzir a saúde a um funcionamento mecânico”.
O educando aprende com prazer quando a Instituição é bem estruturada e apresenta
uma boa proposta de trabalho. Entretanto, outros fatores são fundamentais para este processo
ensino X aprendizagem, como um bom acompanhamento da família e um trabalho com
Psicopedagogo sempre que necessário. Na classe hospitalar fica evidente que há necessidade
da atuação desse profissional, visto que, ele atua como agente de mudança na comunidade
escolar, político-pedagógicos, e das funções e proposições da instituição educacional,
questionando procedimentos e oferecendo propostas de mudanças que visam melhorar as
relações no processo ensino-aprendizagem.
E neste contexto, a Educação X Psicopedagogia X Psicologia, como também
Psicanálise, Lingüística e Filosofia, dentre outras, se unem para participar na solução de
40
problemas que possam surgir no contexto educativo; todas passam a levar em conta esse
contexto, os fins da educação e a problemática dos meios para realizá-la, elevando o aluno ou
aprendente à categoria de sujeito do conhecimento, envolvendo na solução as estratégias
pedagógicas adequadas, considerando liderança, diálogo, visão, pensamento e ação como
pilares de sustentação de uma organização dinâmica, situada, responsável e humana.
Há necessidade de, não apenas conhecer a ação, mas orientá-la, integrando o trabalho
de acompanhamento de procedimentos didáticos à resolução de problemas de adaptação
escolar, que podem ser caracterizados como aqueles que emergem da relação, da interação
entre as pessoas e entre elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o sujeito e as
circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias podem até adotar modalidades patogênicas ou
patológicas, que requerem encaminhamentos específicos que podem extrapolar o espaço
escolar.
Assim, os objetivos propostos para realização deste trabalho foram alcançados com
sucesso. O trabalho psicopedagógico na instituição (hospital), que pode ser chamada de
psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de socializar os conhecimentos
disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de normas de conduta
inseridas num mais amplo projeto social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de
repressão. Assim, a instituição como mediadora no processo de socialização, vem a ser
produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor não apenas
ensina, mas também aprende. Aprende conteúdos, aprende a ensinar, a dialogar e liderar;
aprende a ser cada vez mais um cidadão do mundo, coerente com sua época e seu papel de
ensinante, que é também aprendente. Agindo assim, a maioria das questões poderá ser tratada
de forma preventiva, antes que se tornem verdadeiros problemas.
Foi concluído com base nas hipóteses levantadas para elaboração deste trabalho de
conclusão de curso de psicopedagogia escolar e clínica, entretanto, o trabalho do
Psicopedagogo é fundamental visto que, este trabalha com o ser em processo de construção de
conhecimento, o ser cognoscente, um verdadeiro processo de ensino aprendizagem. A
psicopedagogia trabalha e estuda a aprendizagem e o sujeito que aprende. É uma área das
Ciências Humanas que se dedica ao estudo transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma
nova compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem e, dentro desta
perspectiva, das suas deficiências.
Com certeza, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que melhore as
condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos precisam ser capazes de olhar
esse mundo real em que se vive interpretá-lo, decifrá-lo e nele ter condições de interferir com
41
segurança e competência. Para tanto, toda a equipe hospitalar, juntamente com o
Psicopedagogo precisam estar mobilizados na construção de um espaço concreto de ensinoaprendizagem,
espaço este orientado pela visão de processo, através do qual todos os
participantes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem
intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da ação, e sim continuidade crítica
que impulsione a todos em direção ao saber que definem e lutam por alcançar.
42
10 REFERÊNCIAS:
_____. Ministério da Justiça. Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados:
Resolução n. 41, D. O. U., n. 199, 1995.
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BOFF, Leonardo. Saber Cuidar – ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Ed.
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Artes Médicas, 2000.
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2000
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BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política
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BRASIL. Ministério da Educação – SEESP: Política Nacional de Educação Especial.
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CAPRA, fritjof. A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente, 1982.
CECCIM, Ricardo Burg; CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Criança hospitalizada:
atenção integral como escuta a vida. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.
CECCIM, Ricardo Burg;ET af. Esculta Psicopedagógica à criança hospitalizada. Cap.8.1995
DALTON, Richard; FORMAN, Mark. Psychiatric hospitalization of school-age children.
London: American Psychiatric Press, 1992.
43
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Promoção do desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança hospitalizada. Temas sobre o
desenvolvimento v.07, nº 42, pág 24 a 36 janeiro/fevereiro 1999.
FONSECA, E – Atendimento pedagógico-educacional para crianças e jovens hospitalizados:
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FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo:
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FONSECA, Eneida Simões. Classe hospitalar no Brasil. In: Congresso ibero-americano
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FONTES, Rejane Sousa; WELLER, Liliana Hochman. Classe hospitalar: não
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MEDEIROS, José Gomes; GABARDO, Andréia Ayres. Classe hospitalar: aspectos da
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44
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WALLON, Henri, O Papel do outro na Consciência do eu. São Paulo: Ática, 1986.
45
ANEXOS
ANEXO. 1 ENTREVISTA COM A CRIANÇA
ANEXO. 2 ANAMNESE COM OS PAIS
ANEXO. 3 ENTREVISTA COM A PROFESSORA
ANEXO. 4 FOTOS
ANEXO. 5 ATIVIDADES
ANEXO. 6 ATIVIDADES
ANEXO. 7 ATIVIDADES
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ANEXO 1
ENTREVISTA COM A CRIANÇA
3.Questões de Identificação
Nome
Idade
Com quem vive
Sentimentos em relação ao local e as pessoas com as quais convive –
Coisas que faz em casa
Ocupações preferidas (incluindo o lazer)
Amigos
Gosta de freqüentar a escola? Por quê?
Onde e quando você estuda?
Como se acha como aluno? Por quê?
E a sua professora e seus colegas, o que acham?
Recebe ajuda nas tarefas escolares? De quem?
Como você reage quando não se sai bem nas atividades escolares? E a sua
professora?
3.1 Como ver a própria leitura
O que pensa sobre a leitura? Acha que lê bem, medianamente ou tem
dificuldades?
Acha que lê melhor ou pior que os colegas?
Foi fácil ou difícil aprender a ler?
O que sua professora pensa sobre sua leitura? E as outras pessoas?
O que mais lhe agradou ao aprender a ler?
Para que você usa a leitura?
Em casa lê alguma coisa? O quê?
Na sua casa mais alguém lê? Quem? O quê?
Vai à biblioteca? Onde?
1. Como aprende (u) a ler e a escrever:
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ANEXO 2
ANAMNESE COM OS PAIS
1- Identificação
Nome do cliente:
Data de Nascimento: Naturalidade:
Nome do Pai: I Idade:
Nome da mãe: Idade:
Profissão do pai: Profissão da mãe:
colaridade do pai: Escolaridade da mãe:
2- O dia da criança
Manhã: Tarde: Noite:
3- Ambiente Familiar
Quem mora na casa?
R: Quatro pessoas;
Nomes: Escolaridade: Idade:
Como é a morada?
Como é a vizinhança?
Quem toma conta da criança?
Relacionamentos afetivos mais importantes
Como reagiu ao nascimento de novos irmãos?
Relacionamento da mãe com a criança:
Relacionamento entre os pais e os avós da criança
Relacionamento do casal:
Visitas, quando e como?
Houve novo casamento do pai ou da mãe
Nasceram novos irmãos?
Relacionamento da criança com eles?
Gestação
Como o casal reagiu à notícia?
Qual o sexo desejado?
Doenças ou acontecimentos graves durante a gravidez?
48
Fez pré-natal?
4- Parto: transcorreu normal? Anestesia? Tempo de duração? Local? Como a mãe se
sentiu?
Como era a criança quando bebê?
Quem cuidou da criança nos primeiros dias?
Tomou leite materno até quando?
Como e quando foi à passagem para a alimentação sólida?
Usou chupeta até quando?
Alimenta-se sozinho? É necessário forçar a alimentação? A criança tem diarréias? R: Não
Prisão de ventre? Quando nasceram os primeiros dentes?
5- Sono
Como dormia quando bebê?
E atualmente?
Precisava (precisa) de alguém ou algo para pegar no sono?
Ia (vai) à noite para o quarto dos pais?
6- Desenvolvimento psico-motor
Quando disse as primeiras palavras?
Quando falou corretamente?
Tem algum problema de linguagem?
Toma banho sozinho?
Veste-se sozinha?
7- Doenças
Da criança:
8- A criança apresenta algum tique?
9- Escolaridade:
Com que idade entrou na escola?
Como foi a adaptação?
Houve mudança na escola?
Quando?
Por quê?
Como foi a nova adaptação?
Rendimento e comportamento escolar?
Precisa de auxílio fora da escola?
Relata de forma compreensiva o que assiste e o que faz?
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10- Mudanças e acontecimentos importantes? (mortes, doenças graves, mudança de casa,
etc., como foi explicado como reagiu a criança?)
11- Sexualidade (curiosidade, informação, masturbação, brincadeiras sexuais)?
12- Brincadeiras prediletas
13- Quanto à curiosidade:
14- Atenção / concentração:
15- Amigos (quem? Idades, preferências, quem escolhe?)
16- Como é comemorado o seu aniversário?
17- Agressividade?
18- Medos?
19- Aprendizagem
20- O que mais gosta de fazer
O que faz melhor
21- Retrato da criança (pede-se, a cada um dos genitores, que descreva física e
emocionalmente o (a) filho (a)).
22- Observações sobre a entrevista (o entrevistador deverá relatar o seu sentimento sobre a
entrevista e começar a levantar hipóteses sobre o caso, a serem cotejados com as próximas).
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ANEXO 3
ENTREVISTA COM O PROFESSOR NA ESCOLA REGULAR
Estamos realizando um trabalho com essa criança, precisamos da sua informação sobre os
pontos indicados a seguir. Solicitamos que seja o mais explicito possível, já que toda
informação é imprescindível para começarmos a trabalhar com essa criança. Se há outras
informações que não estão registradas nestes pontos e que você considera pertinentes, favor
anotá-las no verso da folha.
Data da Entrevista
Nome completo da criança
Data de nascimento: Idade
Nome da professora:
Curso:
Desde que ano freqüenta esta escola:
Como é o comportamento dela dentro e fora da sala de aula?
Como se comporta em relação aos colegas?
Como são suas participações nos jogos e brincadeiras realizados dentro e fora de sala?
Em relação aos limites como reage?
Como demonstra ser emocionalmente?
Como são suas tarefas de sala de aula e as que são enviadas para casa?
Como se comporta mediante a dificuldade apresentada nas atividades
Como é sua linguagem oral?
Como é sua compreensão e seu raciocínio lógico-matemático?
Descreva as dificuldades que você consegue perceber na criança?
O que mais a preocupa nesta criança neste momento?
Aspectos de Relacionamento
Como a criança se relaciona com o grupo?
Como é o relacionamento do grupo com a criança? O grupo permite a aproximação da
criança?
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E o seu relacionamento com a criança? E com os outros professores, a criança tem
comportamento diferenciado?
Em sua opinião, a criança apresenta alguma dificuldade de relacionamento com o grupo?
Caso seja afirmativa a resposta, pontue os pontos que lhe levaram a afirmar isso.
Qual ação você tem feito para uma possível mudança no ambiente da sala de aula para
que essa criança seja acolhida pelo grupo, caso ela tenha alguma questão de
relacionamento.
Como é o seu relacionamento com a família da criança?
E a escola, como se comporta em relação à criança?
Aspectos de compreensão geral e de raciocínio
A criança compreende o que se fala?
A criança acompanha a demanda do grupo? O que te leva a acreditar no fato?
Costuma participar das propostas oferecidas pelo professor ao grupo
Precisa de algum apoio na realização das atividade
Reconhece letras, números, cores?
Área de aprendizagem específica
Existe alguma proposta em especial da qual a criança participa ativamente sem
auxílio?
O que a criança demonstra prazer em fazer na escola?
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